A bolsa brasileira pode estar à beira de um dos maiores períodos de valorização de sua história, um “bull market”, que é um período prolongado de alta nos preços dos ativos, que nem mesmo a instabilidade política global, como as discussões envolvendo Donald Trump, seria capaz de frear. Essa é a visão otimista de Walter Maciel, CEO da gestora AZ Quest, que aponta um potencial ainda não totalmente percebido pelo mercado. No entanto, para que esse cenário se concretize, há um fator crucial a ser destravado.
O Nó Fiscal: O Grande Desafio Brasileiro
De acordo com Maciel, o rali histórico da B3 depende diretamente do desfecho das eleições de 2026 e da abordagem da próxima gestão eleita em relação à agenda fiscal do país. A agenda fiscal refere-se ao conjunto de políticas e medidas que o governo planeja para gerenciar as finanças públicas, incluindo gastos e arrecadação. Se o futuro governo demonstrar um compromisso real com a eficiência fiscal, priorizando cortes de gastos em vez de um aumento na carga tributária, a resposta do mercado pode ser explosiva. “Se o mercado perceber que, em 2027, o fiscal será resolvido, o Brasil viverá um bull market como não vemos há muito tempo. Esse pode ser o maior rali da minha carreira. Neste cenário, veremos uma explosão positiva dos ativos. Se isso não acontecer, vai ter uma implosão”, enfatizou o gestor em entrevista exclusiva.
A percepção de Maciel é que a bolsa brasileira não ficará estagnada. O otimismo vem da crença de que o Brasil possui um único grande obstáculo: o desequilíbrio fiscal, ou seja, a forma como o governo gasta e arrecada. Historicamente, sempre que o país se deparou com um problema central, ele foi endereçado. “O mercado está posicionado para a ideia de que a solução fiscal não vai vir, e essa mudança ainda não está precificada”, observou. Essa questão assombra o país há tempos, com diversos governos enfrentando desafios para equilibrar as contas públicas.
Mesmo com possíveis atritos entre figuras políticas como Donald Trump e o governo brasileiro, que poderiam reduzir o interesse de investidores estrangeiros no curto prazo, o CEO da AZ Quest considera isso um “risco muito marginal”. Para ele, o Brasil precisa olhar para dentro: “O nosso grande problema é autoimposto, nós mesmos que criamos e só a gente pode resolver. Se resolvermos o fiscal, não tem nada que possa nos atrapalhar”.
Readequação no Portfólio da B3 e Dólar
Maciel avalia que as ações brasileiras estão subvalorizadas. Em um cenário de incertezas, haverá uma realocação de recursos na bolsa. Empresas com balanços sólidos, boa geração de caixa e baixa dívida, especialmente aquelas com receitas em dólar e operações nos EUA, tendem a se valorizar. Por outro lado, companhias mais dependentes do ciclo econômico e exportadoras para os EUA, como Suzano (SUZB3), WEG (WEGE3) e Embraer (EMBR3), podem ser mais impactadas por tensões comerciais.
Uma crítica do gestor é a insistência governamental em buscar a solução fiscal via arrecadação, e não pelo corte de despesas. “Essa insistência é quase irracional. Existe uma falta de sensibilidade política. A população não aguenta mais pagar impostos. A carga tributária no Brasil é extremamente elevada, inclusive para os mais ricos”, disse Maciel. Ele também questiona o recente aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), um tributo cobrado sobre operações de crédito, câmbio, seguro e títulos e valores mobiliários, que gerou uma “percepção de controle de capital” e, consequentemente, medo no mercado, levando o dólar a picos históricos, como os quase R$ 6,50 vistos no final do ano passado.
Atualmente, a AZ Quest projeta um câmbio em R$ 5,50, mas Maciel acredita que, com um ajuste fiscal, o dólar poderia cair abaixo de R$ 4,00, talvez até R$ 3,80. “O que impede o real de se valorizar mais agora é a percepção de fragilidade fiscal”, explicou. O real brasileiro está hoje aproximadamente 35% abaixo do índice DXY, um indicador que compara o dólar americano com uma cesta de moedas fortes globais, e os juros reais no Brasil, próximos de 10%, são os mais altos entre os países civilizados, tudo reflexo do desequilíbrio fiscal.
O Futuro Próximo: Desafio ou Colapso?
A situação atual, com juros reais altos e um real desvalorizado, é vista como “insustentável a longo prazo”. Maciel alerta que, se a questão fiscal não for resolvida até as eleições de 2026, o governo que assumir em 2027 enfrentará uma “bomba fiscal”. “Daqui a dois anos, talvez até menos, as despesas obrigatórias já vão ultrapassar as receitas. Se isso realmente acontecer, o país faliu. O país quebrou. Vai sobrar um problemaço para quem vier em 2027 resolver”, concluiu, reforçando a urgência de uma solução efetiva para a saúde das contas públicas brasileiras e o futuro da economia.
