A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) identificou uma atuação coordenada entre Tercio Borlenghi Junior, controlador da Ambipar (AMBP3), fundos ligados ao Banco Master e o empresário Nelson Tanure. Segundo o órgão regulador, essa ação teria impulsionado a expressiva valorização das ações da companhia no ano passado, culminando na determinação de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) pelos papéis remanescentes na B3.
A conclusão da CVM surge após a análise da disparada atípica dos papéis da Ambipar, que ultrapassou o limite de um terço das ações em circulação (free float) adquirido em conjunto. Essa movimentação, conforme o regulador, estaria diretamente ligada à privatização da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), arrematada por Nelson Tanure em abril de 2024.
No esquema, ações da Ambipar teriam sido utilizadas como garantia para financiar a aquisição da estatal paulista, com Tercio Borlenghi atuando como fiador da transação. A CVM aponta que as aquisições coordenadas e a consequente valorização de AMBP3 “criaram as condições para a formação das garantias necessárias ao financiamento da EMAE e para a valorização do patrimônio do Sr. Tercio”.
O julgamento do caso na CVM foi suspenso após pedido de vista do diretor Otto Lobo, embora o presidente João Pedro Nascimento e a diretora Marina Copola já tivessem votado pela realização da OPA pelo controlador. Em sua defesa no processo, Tercio Borlenghi argumentou que o investimento comum na EMAE, usando as ações da Ambipar como garantia, não seria suficiente para caracterizá-los como “pessoas vinculadas”.
A Disparada de AMBP3 e o Short Squeeze
Os fundos associados ao Banco Master, incluindo Kyra e Texas, teriam realizado compras dos papéis da Ambipar na B3 após o rompimento do limite de um terço do capital em circulação. A CVM indica que a valorização subsequente dos papéis contribuiu para “robustecer” o patrimônio da instituição. Além das aquisições conjuntas, a própria Ambipar implementou um programa de recompra de ações que, segundo a área técnica da CVM, gerou um ganho de aproximadamente R$ 260 milhões para a companhia ao quitar obrigações.
A escalada das ações da Ambipar foi notável, saindo de R$ 8,00 no final de maio do ano passado para um pico de R$ 268 em dezembro, um movimento amplificado por um “short squeeze” – situação em que investidores apostando na queda são forçados a comprar, elevando ainda mais os preços. Em 10 de julho do ano passado, data em que o limite foi rompido, as ações fecharam a R$ 21,14. Atualmente, os papéis de AMBP3 permanecem voláteis, negociados a R$ 164,00, e o preço de uma eventual OPA ainda não foi definido.
Procurada, a Ambipar não se manifestou até a publicação desta matéria. O texto será atualizado caso a empresa se posicione sobre o tema.