Receber uma renda passiva recorrente é o objetivo de muitos investidores, e as ações pagadoras de dividendos figuram entre os favoritos do mercado brasileiro. Com o início do segundo semestre de 2025, investidores buscam recalibrar suas carteiras em busca de proventos mais robustos, conforme destacado no evento “Onde Investir no Segundo Semestre de 2025”.
Um painel exclusivo no evento reuniu Bruno Henriques, analista sênior do BTG Pactual, e Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, que apresentaram suas recomendações de “vacas leiteiras” para o período. A lista inclui nomes tradicionais, como o Itaú (ITUB4), e outras companhias que nem sempre estão no radar de quem busca distribuição de proventos.
Recomendações de analistas para o 2º Semestre
O Itaú (ITUB4) é considerado um “coringa” pelos analistas, visto como uma ação resiliente às variações macroeconômicas e “à prova de qualquer cenário”. Para Direcional (DIRR3), a indicação se deve ao bom momento da construtora no segmento de habitação popular, impulsionada pela Faixa 4 do programa Minha Casa Minha Vida. Ruy Hungria apontou que a empresa já pagou 8% de yield este ano, com expectativa de mais 5%.
A Caixa Seguridade (CXSE3) também foi citada, com sua tese de investimento baseada em fluxo de caixa previsível, atrelado ao crédito habitacional, o que a torna uma pagadora consistente de dividendos. Já a Marcopolo (POMO4), embora não seja um destaque óbvio, merece atenção pela sua dinâmica operacional, com capacidade de gerar resultados significativos no segundo semestre e pagar dividendos interessantes até o final do ano, segundo Bruno Henriques.
Em uma perspectiva de longo prazo, Eletrobras (ELET3) e Copel (CPLE6) surgem como opções. A Eletrobras, apesar da pressão de caixa em 2025, tem expectativa de distribuição de proventos mais atrativa a partir de 2026, com potencial de se aproximar dos 10% de yield. A Copel, por sua vez, passou por um processo de reestruturação e otimização de capital, com projeção de crescimento do dividend yield para até 10% até 2028.
A Gerdau (GGBR4) é outra aposta de longo prazo. Negociando a menos de quatro vezes o valor da firma sobre Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), a siderúrgica deve ter um segundo semestre superior ao primeiro, beneficiada por medidas tarifárias nos EUA, que compensam preços mais baixos no Brasil. Hungria destaca um dividend yield na casa dos 5% e gatilhos positivos como a possível redução de investimentos (capex) no radar.
Para um horizonte mais alongado, a SLC Agrícola (SLCE3) e a Prio (PRIO3) também foram mencionadas. A SLC Agrícola tem expandido suas terras, o que projeta uma geração de caixa substancial e potencial para maiores dividendos ou recompras futuras. A Prio, atualmente mais alavancada pela aquisição do Campo de Peregrino, é vista como uma grande geradora de caixa em um cenário futuro sem novas fusões e aquisições.
O “novo normal” da Petrobras (PETR4)
No que se refere à Petrobras (PETR4), o cenário de dividendos extraordinários é menos provável. Ruy Hungria explicou que, com o preço do petróleo Brent na casa dos US$ 70 o barril, a expectativa é de um yield de cerca de 10% apenas com os proventos ordinários, sem apostar em extraordinários. Essa perspectiva poderia mudar se o Brent atingisse US$ 80.
“Se o investidor estava acostumado a 20% ou 30% de yield com as ações, pode esquecer. Mas se um rendimento de até 10% te satisfaz e você tem uma carteira diversificada, pode fazer sentido”, disse Hungria.
A política de dividendos da Petrobras considera uma dívida bruta de US$ 75 bilhões, nível próximo ao atual, que resulta em uma alavancagem de 1,4 vez dívida líquida sobre Ebitda. Bruno Henriques complementa que não se pode comparar com os pagamentos de 2021 e 2022, quando a estatal realizou desinvestimentos que otimizaram seu balanço e geração de caixa. Esse é o “novo normal” da petroleira.
Apesar da Selic em patamares elevados (15% ao ano), o primeiro trimestre de 2025 registrou o maior pagamento de proventos desde 2022, com quase R$ 100 bilhões distribuídos. Analistas explicam que, embora juros altos possam reduzir lucros disponíveis, empresas brasileiras estão menos alavancadas que no passado. O forte crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também tem favorecido os balanços corporativos, contribuindo para a distribuição de proventos.