Contrariando a predominância da renda fixa nas carteiras brasileiras, o Ibovespa encerrou o primeiro semestre de 2025 como o investimento de maior destaque. O principal índice da bolsa brasileira registrou uma valorização acumulada de 15,44%, finalizando o pregão de 30 de junho em 138.854,60 pontos. Este desempenho o colocou em primeiro lugar no ranking de investimentos acompanhados pelo Seu Dinheiro.
Capital Estrangeiro Impulsiona a Bolsa
O principal motor por trás da performance do Ibovespa foi o expressivo retorno do capital estrangeiro ao mercado brasileiro. Desde janeiro até 26 de junho, R$ 25,2 bilhões em aportes de investidores globais foram injetados na B3, a bolsa de valores brasileira. Analistas apontam que gestoras e investidores internacionais buscam alternativas ao mercado norte-americano, em meio a insatisfações com a política econômica dos Estados Unidos, incluindo tensões comerciais e aumento da dívida do país. Este cenário tornou mercados emergentes, como o Brasil, mais atraentes devido à percepção de juros altos e ações com preços considerados “baratos”.
Bancos internacionais renomados, como Bank of America, UBS e Morgan Stanley, elevaram recentemente suas recomendações para ações brasileiras para “overweight”, o equivalente a uma indicação de compra. A tese predominante para essa perspectiva favorável é o fim do ciclo de alta da taxa Selic, que atualmente está em 15% ao ano, com a expectativa de um possível início de queda dos juros a partir de 2026. A projeção é que a bolsa e as ações continuem a se beneficiar dessa mudança na política monetária.
Riscos Políticos e Desempenho dos FIIs
Apesar do cenário otimista, existem riscos inerentes à tese de investimentos no Brasil, principalmente ligados à esfera local. Preocupações com as contas públicas, o próximo ano eleitoral de 2026 e as constantes disputas entre a Presidência e o Congresso Nacional impactaram o mercado em junho. A votação no Congresso que derrubou o decreto presidencial de elevação das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é um exemplo, com projeção de perda de arrecadação de R$ 10 bilhões em 2025 e R$ 20 bilhões em 2026, aumentando os conflitos políticos.
Na sequência do Ibovespa, os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) se destacaram como o segundo melhor investimento do semestre, com rentabilidade acumulada de 11,79% no ano, atingindo 3.483,77 pontos. Diferente da bolsa, o bom desempenho dos FIIs não é atribuído ao capital estrangeiro, mas a uma correção da forte desvalorização acumulada desde o ano passado. Os FIIs são sensíveis a juros altos e foram penalizados com a alta da Selic em setembro de 2024 e o pacote de isenção do Imposto de Renda em dezembro. Atualmente, os FIIs de papel (que investem em títulos de renda fixa) apresentam melhor performance, enquanto os FIIs de tijolo (que investem em ativos físicos) ainda oferecem “desconto” nos preços, com analistas apostando na recuperação desses ativos de imóveis físicos com a expectativa de queda dos juros.
Dólar e Renda Fixa: Outros Cenários
O dólar, por sua vez, assumiu a última posição no ranking de investimentos em 2025, fechando em baixa em quatro dos seis meses do ano. Grande parte dessa desvalorização está ligada ao fluxo de entrada de capital estrangeiro no Ibovespa e nas ações brasileiras. A moeda norte-americana perdeu seu status de “ativo seguro” em cenários de aversão a risco, com o euro e o ouro sendo preferidos em carteiras internacionais. O índice dólar (DXY), que compara a moeda a seis divisas fortes, acumulou perda de 10% no ano, negociando na faixa dos 96.820 pontos, após iniciar janeiro em 110 mil. Em 30 de junho, o dólar fechou a R$ 5,43 frente ao real, o menor valor desde setembro de 2024.
Apesar de ser o investimento mais popular entre os brasileiros e considerado “vitorioso” em um cenário de juros a 15% ao ano, a renda fixa não superou o Ibovespa na marcação a mercado neste início de ano. Títulos públicos, CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e o índice de debêntures da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) registraram bons desempenhos, mas ficaram abaixo da bolsa. O alívio nas taxas de juros futuras, impulsionado pela isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil em dezembro, a queda do dólar e o bom desempenho da economia, contribuiu para a valorização de alguns títulos. O Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2035, por exemplo, teve uma rentabilidade de preço de 10,8% no ano, com sua taxa caindo de 15,3% para 13,2% em 30 de junho.