O Méliuz (CASH3), plataforma de cashback e cupons de desconto, tem redefinido sua estratégia de negócios ao intensificar a aposta em criptomoedas. Com um portfólio que já soma 595,67 bitcoins e R$ 333,98 milhões alocados na criptomoeda, a empresa busca no Bitcoin (BTC) um novo direcionador de valor, embora mantenha suas operações de cashback.
A mudança estratégica vem se consolidando desde 2024, após as ações CASH3 terem desvalorizado 54% desde sua oferta pública inicial (IPO) em novembro de 2020. Em maio, o Méliuz anunciou um follow-on de R$ 180 milhões para ampliar seus investimentos em ativos digitais.
Bitcoin como novo pilar de valor
Analistas de mercado apontam que a guinada do Méliuz reflete o esgotamento e a alta competição no setor de cashback. João Daronco, da Suno Research, afirma que a plataforma não possuía “grandes vantagens competitivas” no longo prazo, tornando seu modelo de negócios de intermediação frágil.
“Foi uma mudança de estratégia que ninguém esperava, mas, como plataforma de cashback, não via grandes vantagens competitivas. No longo prazo, o Méliuz não conseguiria lidar com certas barreiras para manter um retorno sobre o capital elevado de forma sustentável”, afirma Daronco.
Essa transição se assemelha ao movimento da MicroStrategy nos Estados Unidos, que também realocou parte substancial de seu caixa em criptoativos diante da estagnação de seu core business. Valter Rebelo, head de criptoativos da Empiricus Research, compara as duas empresas:
“Parece que o Méliuz está seguindo o mesmo caminho: apostando no bitcoin como driver de valor, mesmo sem abandonar formalmente o modelo de cashback.”
Os passos do Méliuz incluem emissão de títulos de dívida e follow-on para investimento em bitcoin, similarmente à MicroStrategy.
Cashback permanece e gera BTC
Apesar da forte aposta em Bitcoin, Diego Soares Kolling, head da Estratégia Bitcoin do Méliuz, assegura que o negócio de cashback continuará fundamental. “O negócio de cashback é absolutamente importante para isso, especialmente agora, porque é gerador de caixa. Esse caixa será quase completamente convertido em bitcoin, aumentando nossos bitcoins por ação”, explica Kolling.
A nova baliza de sucesso para a empresa passa a ser “bitcoin por ação”, em vez de lucro por ação. Kolling reitera que não há planos de descontinuar o cashback ou outras operações, visando manter um negócio operacional que “gere caixa eternamente para comprar bitcoin”. No futuro, o Méliuz considera até integrar o Bitcoin ao cashback para criar sinergias.
BTG Pactual retoma cobertura e recomenda compra
O BTG Pactual retomou a cobertura das ações do Méliuz (CASH3) com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 10 para o fim do ano, um potencial de alta de 43%. Em relatório, o banco classifica a empresa como uma “Bitcoin Treasury Company” (Empresa com Tesouraria em Bitcoin).
A tese de investimento do Méliuz, segundo o BTG, repousa sobre quatro pilares, que incluem a capacidade de gerar caixa operacional, a gestão de sua tesouraria em Bitcoin, e o posicionamento para atrair investidores que buscam exposição indireta ao BTC. Contudo, analistas alertam que a tese pode ser comprometida caso qualquer um desses pilares se enfraqueça.