As recentes chuvas intensas no Rio Grande do Sul devem impactar de maneira significativa os preços de diversos produtos alimentícios. A estimativa é que, após a redução das águas, os prejuízos comecem a ser contabilizados, resultando em um aumento de 13,49% no preço do arroz em casca até 21 de maio, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. O Rio Grande do Sul, principal produtor de grãos do Brasil, é responsável por aproximadamente 70% do arroz comercializado no país, além de outras culturas como soja, trigo, milho e diversos hortifrutis. A pecuária, setor crucial para a economia local, também será afetada.
Em resposta, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizou um leilão público para adquirir 263 mil toneladas de arroz importado da safra 2023/2024, com a entrega prevista até 8 de setembro. Esse arroz será destinado às áreas metropolitanas escolhidas pela Conab com base em indicadores de insegurança alimentar e deve ser vendido ao consumidor final a um preço máximo de R$ 4 por quilo. O Ministério da Agricultura e Pecuária agilizou essa compra temendo maiores aumentos nos preços e problemas de abastecimento devido às perdas nas lavouras e dificuldades logísticas.
Para apoiar a recuperação da agropecuária, a Embrapa criou um plano de médio e longo prazo, visando mitigar os efeitos adversos das chuvas. As ações são coordenadas a partir de suas quatro unidades no estado: Clima Temperado (Pelotas), Pecuária Sul (Bagé), Trigo (Passo Fundo) e Uva e Vinho (Bento Gonçalves).
Segundo Raphael Galo, analista da Sales Agro da Terra Investimentos, as chuvas danificaram infraestruturas logísticas, reduzindo a oferta de produtos como arroz, frutas (maçã, uva) e proteínas de frango e bovino, além de itens industrializados. O analista observa que cerca de 82% da safra de arroz já havia sido colhida antes das chuvas, com um impacto esperado de 3,2% na produção nacional. Outros cultivos, como milho e soja, tinham colheitas de 87% e 80%, respectivamente.
Embora não se preveja desabastecimento, a produção de trigo pode ser afetada caso as condições climáticas permaneçam desfavoráveis. O plantio de trigo, que ocorre entre maio e junho, pode ser prejudicado pela perda de fertilidade do solo devido às inundações.
A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) questionou a necessidade de importação de arroz. De acordo com o economista-chefe Antônio da Luz, a perda prevista é de 200 mil toneladas em uma safra de 7 milhões de toneladas, resultando em um excedente de 670 mil toneladas em comparação ao ano anterior. A Farsul argumenta que a compra precipitada pelo governo aumentou os preços no Mercosul em aproximadamente 30%.
Problemas logísticos também afetaram o abastecimento de frutas e hortaliças no estado, com operações da Ceasa de Porto Alegre transferidas para Gravataí. Entretanto, a Ceasa de Caxias do Sul não foi afetada pelas inundações, mas opera com menor volume devido ao impacto nos produtores locais. A produção de folhosas, como alface, sofreu perdas significativas com os produtores relatando uma redução de 50% em algumas áreas, como em Uruguaiana.
A produção de frutas cítricas também enfrenta desafios, com plantas apresentando baixos rendimentos e infestações de pragas como cochonilha, ácaros e pulgões em várias regiões, incluindo Santa Rosa. Na cidade de Soledade, a falta de luminosidade tem atrasado o desenvolvimento e a maturação dos frutos, além de comprometer a qualidade dos produtos.