O Ibovespa se movimenta nesta sexta-feira impulsionado pela temporada de balanços, com a Petrobras (PETR4) em destaque. No entanto, o cenário global, marcado pelo chamado “efeito Trumpoleta” — uma adaptação do efeito borboleta que liga as tarifas de Donald Trump à economia brasileira — adiciona uma camada de complexidade aos investimentos, especialmente nos fundos imobiliários.
Após quatro dias consecutivos de alta, o principal índice da bolsa brasileira avança quase 3% na semana. Esse movimento acontece em um período de turbulência, com a implementação de sobretaxas de Trump contra o Brasil e a agitação política interna com o fim do recesso legislativo. Ontem, por exemplo, o Ibovespa registrou alta de 1,48%, impulsionado, em parte, pela performance da Eletrobras.
A Eletrobras (ELET3) viu suas ações subirem quase 10%, um desempenho notável para o setor elétrico. Mesmo com um prejuízo líquido de R$ 1,35 bilhão no segundo trimestre de 2025 (2T25), a ex-estatal surpreendeu o mercado com pontos positivos que agradaram investidores, como o dividendo surpresa. Especialistas apontam que ainda pode haver oportunidades para quem busca investir na companhia, mas com cautela.
“Trumpoleta”: O impacto das tarifas na economia brasileira
A “Trumpoleta”, metáfora que descreve a influência das políticas protecionistas de Donald Trump nos Estados Unidos sobre o mercado financeiro brasileiro, é uma preocupação real. As incertezas geradas pela guerra comercial global podem levar o Banco Central (BC) do Brasil a manter a taxa básica de juros, a Selic, em níveis mais elevados por um tempo prolongado. A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, usada como referência para todas as outras taxas de juros, impactando desde o crédito ao consumidor até os investimentos.
Essa perspectiva já trouxe reflexos para o mercado de fundos imobiliários (FIIs), investimentos que permitem aplicar em empreendimentos do setor, como shoppings e escritórios. Em julho, o Ifix, índice de FIIs da B3, registrou queda de 1,36%, quebrando uma sequência de cinco meses de alta. Essa correção, contudo, abriu portas: o fundo mais recomendado para agosto está sendo negociado com um deságio de 4% em relação ao seu valor patrimonial, o que pode ser uma oportunidade de compra com desconto.
Temporada de balanços movimenta o mercado
Além das questões macroeconômicas, a temporada de balanços do segundo trimestre de 2025 (2T25) segue ditando o ritmo do Ibovespa. A Petrobras (PETR4) apresentou um lucro de R$ 26,6 bilhões, revertendo o prejuízo anterior e superando as expectativas, além de anunciar a distribuição de R$ 8,6 bilhões em dividendos, parcelas do lucro da empresa distribuídas aos acionistas.
Outras empresas também divulgaram seus resultados. O Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, viu seu lucro virar prejuízo de R$ 24,4 milhões no 2T25, impactado pela Selic em 15%. Já a Tenda (TEND3) surpreendeu positivamente, com lucro que “explodiu” 4.430% no mesmo período, atribuindo o resultado ao bom momento do programa Minha Casa Minha Vida. A Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, viu seu lucro crescer 151,2%, mesmo com o Santander ainda apontando riscos.
Por outro lado, a Braskem (BRKM5) reverteu lucro em prejuízo de R$ 267 milhões, enfrentando pressão sobre suas finanças e rumores de venda de ativos. A Localiza (RENT3) projeta um impacto negativo em sua frota devido ao decreto do IPI Verde, uma mudança na tributação que afeta o valor de revenda de veículos. A Minerva (BEEF3) aprovou uma redução de capital para cobrir prejuízos, uma medida contábil que não afeta diretamente os acionistas.
No cenário internacional, a possibilidade de uma reunião entre Trump e Vladimir Putin, e a indicação de Stephen Miran para um mandato-tampão no Fed (Banco Central dos EUA) até janeiro de 2026, também são monitoradas de perto. Essas movimentações podem influenciar as expectativas para a taxa de juros global.