O estrategista-chefe da XP Investimentos, Fernando Ferreira, projeta que o índice Ibovespa pode alcançar 145 mil pontos até o final do ano, influenciado por avanços econômicos e cortes de gastos programados pelo governo para 2025. Essas ações podem destravar o valor dos ativos locais, inclusive a Bolsa.
Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou o compromisso com o arcabouço fiscal, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma redução de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias para 2025. Ferreira observa que, anteriormente, ativos brasileiros enfrentaram pressões devido a ruídos políticos, afetando mercados de câmbio e juros futuros, complicando a condução da política monetária e aumentando a pressão sobre o Banco Central.
Para a XP, a consistência na alta do Ibovespa e o retorno de investimentos estrangeiros dependerão do nível das taxas de juros. Atualmente, a corretora mantém a expectativa de uma taxa Selic a 10,50% até o final de 2025, com possibilidade de ser maior. Ferreira destaca que, apesar dos cortes nas despesas não alterarem a projeção para o final deste ano, eles ajudam a destravar o valor dos ativos locais.
Ferreira explica que a posição da XP de que o Ibovespa alcance 145 mil pontos se sustenta nos bons resultados reportados pelas empresas, níveis adequados de alavancagem e pagamentos de dividendos robustos. Ele compara os preços das ações atuais aos níveis vistos durante a crise de 2008 e meados de 2015, considerando-os baratos.
Os principais desafios enfrentados pelo Ibovespa no primeiro semestre foram fatores externos, como a expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve, que não se concretizaram. Esses cortes teriam beneficiado o Brasil, que já iniciou o corte de juros. A ausência desses cortes resultou em saída significativa de investimentos estrangeiros, agravada por questões fiscais e monetárias domésticas.
O estrategista conclui que, com a dissipação dos ruídos políticos e a estabilização do cenário macroeconômico, o mercado de ações brasileiro tem potencial para desempenho positivo no segundo semestre. A perspectiva de corte de juros pelo Fed poderia inclusive fazer com que o Ibovespa em dólar supere o S&P 500.
Contudo, Ferreira alerta que se o Federal Reserve não iniciar o afrouxamento monetário e os dados de inflação continuarem altos, o impacto será sentido no Brasil, tanto no fluxo de investimentos quanto na percepção do Banco Central. A depreciação cambial resultante afeta as expectativas, mesmo que a inflação corrente se mantenha controlada.
No início do ano, o Brasil era considerado um país “overweight” entre os emergentes. Agora, o cenário está mais equilibrado. Apesar da perda de 19,80% do Ibovespa no primeiro semestre, Ferreira ainda vê interesse pelo mercado brasileiro, que pode voltar a atrair fluxo se os ruídos internos forem controlados.