Mesmo após um período de instabilidade geopolítica e incertezas tarifárias, os mercados financeiros globais, especialmente as bolsas de valores americanas, exibiram notável resiliência, alcançando novas máximas no ano. A atenção dos investidores agora se volta à política monetária do Federal Reserve (Fed), em meio a debates internos sobre os rumos das taxas de juros.
Recentemente, quando os mercados começavam a se acalmar em relação às questões tarifárias, um ataque às instalações nucleares do Irã, por parte de Donald Trump, trouxe um novo susto. Contudo, o impacto imediato sobre os mercados foi mínimo, situação que persistiu até a surpreendente declaração de um cessar-fogo. Essa aparente calma pode ser explicada pela aposta do mercado na limitada capacidade de retaliação do Irã, confirmada por uma comunicação prévia do lançamento de mísseis aos americanos.
Força dos mercados acionários e o papel do Fed
A reação contida do mercado diante da escalada geopolítica é também um indicativo da força geral dos mercados acionários. Após o anúncio do cessar-fogo, as bolsas americanas, incluindo a Nasdaq, atingiram novas máximas históricas e do ano, consolidando a percepção de um “sangue frio” coletivo entre os investidores.
Com as tensões geopolíticas amenizadas, o foco se deslocou para a política monetária do Fed. A instituição decidiu manter sua taxa de juros inalterada, apesar de certo dissenso interno. Jay Powell, presidente do Fed, justificou a decisão projetando uma alta da inflação nos próximos meses, impulsionada pelo choque tarifário, além de apontar a boa saúde da economia americana como fator para a manutenção de uma política “levemente” restritiva.
Críticos, no entanto, questionam a postura de Powell, que usualmente demonstra desconfiança em usar previsões econômicas incertas para guiar as decisões, priorizando dados concretos. Dois membros influentes do Fed, Christopher Waller e Michelle Bowman, sugeriram a necessidade de um corte nas taxas de juros já na próxima reunião de julho, argumentando que o choque tarifário será menor que o esperado e que já há sinais de desaceleração econômica.
Valuation elevado e oportunidades futuras
Apesar de Powell atualmente ter o apoio majoritário para manter a estabilidade das taxas, a expectativa é de mais dissenso na próxima reunião. Caso a inflação não se eleve como previsto pela maioria dos economistas, o reinício do ciclo de queda de juros a partir de setembro é considerado provável, podendo ser mais prolongado do que o esperado atualmente.
Analistas da Goldman Sachs, em relatório recente, apontam que o mercado acionário americano possui os índices de valuation mais altos do mundo. A razão do preço sobre lucros esperados do S&P 500, por exemplo, é de 21,5x, valor acima de 90% do percentil histórico. Mesmo ao excluir as “Big Techs”, essa razão permanece alta em 19,8x. Para comparação, índices globais e europeus apresentam valores significativamente menores, enquanto mercados emergentes e a China exibem valuations mais modestos.
Diante de uma economia americana em desaceleração, a postura do Fed agindo “atrás da curva” e um questionamento crescente sobre o “excepcionalismo americano” – evidenciado pela queda do dólar mesmo com a elevação das taxas dos Treasuries –, surge a dúvida se as ações do S&P 500 não ligadas às “Big Tech” justificam tal prêmio.
Nesse cenário, algumas oportunidades de alocação se destacam para o restante do ano. Treasuries de 10 anos devem ter bom desempenho com a virada do ciclo de juros. O dólar, com os cortes de juros do Fed, deve seguir sua tendência de queda, o que seria benéfico para a bolsa brasileira. A divergência entre as “Big Techs”, impulsionadas pela inteligência artificial, e o restante do mercado, também deve se acentuar.