O presidente argentino, Javier Milei, anunciou no último sábado (26) uma medida de grande impacto para o agronegócio: a redução permanente dos impostos para exportação de aves, carne bovina, soja e derivados, milho, sorgo e girassol. A decisão, que torna definitiva uma isenção que era temporária, é vista por grandes bancos, como o BTG Pactual, como um passo crucial para incentivar produtores e sustentar as exportações do país vizinho.
Impacto nos Campos e na Economia
A iniciativa de Milei sucede um benefício temporário que expirou em junho e busca proporcionar os incentivos necessários aos produtores rurais antes da temporada de plantio de 2026. Segundo analistas do BTG Pactual, como Sofia Ordonez e Andres Borenstein, a redução deve ser positiva para o setor, ajudando a manter os volumes de exportação agrícola que, de outra forma, poderiam cair com o fim do benefício temporário.
Ainda que o impacto da medida não seja grande em 2025 devido à redução mínima, a oficialização da nova carga tributária é um sinal para o mercado. Para o BTG, tornar essa redução permanente é um ponto favorável, pois proporciona os incentivos corretos para os produtores antes da próxima safra. O corte de impostos sobre exportações, introduzido em janeiro deste ano de forma temporária, agora se consolida como uma política de longo prazo.
Custo Fiscal e Manobra Política
Embora a redução fiscal represente um custo inferior a 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 – e ainda menor, menos de 0,1%, neste ano –, o governo argentino demonstra confiança em atingir sua meta de resultado primário de 1,6% do PIB. Vale lembrar que o PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos em um país, servindo como um importante indicador da atividade econômica geral.
O anúncio também serve como uma “moeda de troca” política, recebendo apoio de alguns governadores e fortalecendo a posição de Milei para negociar o veto a reformas fiscalmente onerosas. Projetos que Milei quer vetar, por exemplo, têm um custo fiscal de 1,6% do PIB. A redução de impostos sinaliza que o governo está confiante de que o veto será mantido, demonstrando a importância do alinhamento político para a estabilidade econômica.
Benefícios Regionais e Desafios
As províncias argentinas, especialmente aquelas com forte agronegócio, tendem a se beneficiar diretamente da medida. A redução nas taxas de exportação, que são exclusivamente federais, deve resultar em um aumento na arrecadação do Imposto de Renda (IR) do setor, cuja incidência é compartilhada com as províncias. Essa medida, além de econômica, também visa reconstruir pontes com o setor agropecuário, onde havia certo atrito, como indicou o discurso de Milei na Exposição Rural.
No entanto, a oposição na Argentina, ligada ao kirchnerismo, tem criticado a medida, argumentando que há dinheiro para “oligarcas” (agricultores), mas não para os aposentados. Segundo o BTG, essa mensagem, embora possa encontrar eco em parte da sociedade, ignora a realidade do setor. Analistas do banco apontam que cerca de 60% da soja na Argentina é cultivada em terras arrendadas, o que distancia a classe política da dinâmica real da produção agrícola. Esse cenário, para os analistas, ecoa um erro cometido pelo peronismo em 2008, quando Cristina Kirchner tentou aumentar as taxas de exportação.
Apesar dos desafios políticos e das críticas, a aposta de Milei na redução de impostos para o agronegócio sinaliza um movimento estratégico para impulsionar a economia argentina e fortalecer a relação com um setor vital para o país. O mercado e os produtores aguardam os desdobramentos dessa política, que promete influenciar as próximas safras e a balança comercial da nação vizinha.
