As mudanças climáticas estão intensificando os riscos para as seguradoras na América Latina. Com eventos climáticos extremos se tornando mais comuns, a indústria de seguros enfrenta grandes desafios.
Kaspar Mueller, CEO da Swiss Re para a América Latina, explicou que a região sofre com a combinação de alta exposição a perigos e baixa adesão a seguros. Essa situação cria uma enorme “lacuna de proteção”, com prejuízos que nem sempre são cobertos.
Mueller divide os riscos climáticos em duas categorias: os primários, como terremotos e furacões, e os secundários, como enchentes e incêndios. No Brasil, os riscos secundários têm sido cada vez mais frequentes. Secas levam a mais incêndios, e enchentes causam grandes estragos.
Ele lembrou os casos de Petrópolis em 2022 e do Rio Grande do Sul no ano passado. Ambos mostram como a falta de gestão de riscos climáticos pode resultar em grandes perdas.
O impacto financeiro desses desastres está crescendo. Nos últimos cinco anos, as perdas globais ultrapassaram US$ 100 bilhões por ano. Só em 2023, foram US$ 134 bilhões. Para 2025, os incêndios na Califórnia já indicam perdas de US$ 40 bilhões.
As mudanças climáticas também afetam a previsibilidade dos riscos. Isso dificulta a precificação de seguros e a gestão de capital das resseguradoras. Mueller enfatizou que as seguradoras precisam se proteger para poder proteger a sociedade.
Por isso, a Swiss Re prefere contratos anuais, que permitem incorporar dados mais recentes sobre eventos como enchentes e incêndios nas análises de risco.
Baixa Adesão a Seguros no Brasil
Apesar dos riscos crescentes, poucos brasileiros têm seguro. Apenas 30% dos carros e 17% das casas estão segurados. Para Mueller, falta uma cultura de prevenção e o incentivo de instituições como os bancos.
A falta de seguro aumenta o “gap de proteção”. No Rio Grande do Sul, por exemplo, as perdas econômicas foram muito maiores do que as cobertas por seguros. A tragédia das chuvas no estado gerou perdas estimadas em R$ 89 bilhões, mas só R$ 6 bilhões estavam segurados.
Um estudo da Susep mostrou que a lacuna de proteção no Rio Grande do Sul chegou a 93%. Isso demonstra o quanto as perdas financeiras superam o que é pago pelas apólices de seguro.
Falta de Políticas Públicas
Mueller criticou a falta de políticas públicas estruturadas no Brasil. Ele mencionou que países como México e ilhas do Caribe protegem infraestruturas importantes com apoio de resseguradoras, mas o Brasil ainda está atrasado.
Segundo ele, faltam propostas concretas e investimento em ações que trarão resultados no futuro. Mueller defende parcerias entre o governo e o setor privado para proteger ativos essenciais da sociedade.
Embora não tenha comentado diretamente sobre o cenário eleitoral brasileiro, Mueller reconheceu que o setor de seguros é muito regulado e que mudanças políticas podem impactar o ambiente de negócios.
Apesar dos desafios, o CEO da Swiss Re acredita no potencial da América Latina, especialmente do Brasil. Ele vê o país como um mercado prioritário e quer apoiar seu crescimento e aumentar a capacidade de lidar com as mudanças climáticas.