O mercado brasileiro vive dias de montanha-russa. Após uma queda de 0,77% na segunda-feira, o Ibovespa tenta recuperar o fôlego nesta quarta-feira, 26 de março de 2025. Investidores dividem atenções entre o alívio trazido pela ata do Copom e a apreensão com as tarifas “recíprocas” que Donald Trump promete implementar em apenas uma semana.
A bolsa brasileira, que acumula alta de quase 7% em março, agora enfrenta um teste de resistência. O índice futuro abriu com leve queda de 0,03%, aos 133.325 pontos, enquanto operadores aguardam sinais mais claros sobre quais países serão efetivamente atingidos pelas novas medidas protecionistas americanas.
O “Dia da Libertação” de Trump
O presidente americano Donald Trump apelidou o próximo 2 de abril como “dia da libertação” – data em que pretende implementar tarifas significativas contra diversos parceiros comerciais dos EUA. As chamadas “tarifas recíprocas” buscarão equalizar as taxas americanas com impostos cobrados por outros países.
O Brasil aparece na lista dos possíveis alvos, junto com outras 14 nações que mantêm déficits comerciais persistentes com os Estados Unidos – grupo apelidado pelo Secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, como “dirty 15” (os 15 sujos). Entre os países que podem ser afetados estão também Austrália, Canadá, China, União Europeia, Índia, Japão, Coreia do Sul, México, Rússia e Vietnã.
No entanto, Trump sinalizou na segunda-feira que “pode dar uma folga a montes de países”, gerando especulações sobre quem realmente será atingido. Analistas acreditam que as tarifas provavelmente se concentrarão em economias com barreiras não tarifárias e superávits comerciais grandes, como Canadá, Japão, México e União Europeia.
Reação do governo brasileiro
O governo brasileiro já iniciou negociações para minimizar os impactos das novas taxas. O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, revelou que o Brasil negocia com os EUA sobre as taxas de 25% ao aço e alumínio brasileiros, e que uma das alternativas na mesa é a adoção de uma cota de exportação.
“Tive uma conversa com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial americano, Jamieson Greer. Uma das ideias é estabelecer uma cota”, afirmou Alckmin em evento organizado pelo jornal “Valor” em São Paulo7.
Ata do Copom traz alívio temporário
Em meio às tensões comerciais, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central trouxe um respiro ao mercado na terça-feira. O documento, que reiterou o compromisso com a convergência da inflação para a meta, foi bem recebido pelos investidores1.
O tom mais duro da ata, que reforçou que o ciclo de alta de juros não terminou, não alterou a expectativa de que a Selic continuará subindo até junho, podendo alcançar 15% – o maior nível desde 20066. Essa postura firme do BC animou o mercado na terça-feira, quando o Ibovespa fechou em alta de 0,57% e o dólar recuou 0,75%, voltando à faixa dos R$ 5,701.
Perspectivas para o mercado
Analistas da EQI preveem que a Selic pode chegar até 15,25% ao ano, criando oportunidades de lucro de até 18% ao ano para investidores atentos1. Enquanto isso, o Boletim Focus do Banco Central revisou para baixo suas projeções para inflação, dólar e PIB para 2025.
Para o IPCA, a projeção caiu de 5,66% para 5,65%, enquanto a estimativa para o dólar passou de R$ 5,98 para R$ 5,95. Já a previsão para o crescimento do PIB em 2025 foi reduzida de 1,99% para 1,98%.
O mercado brasileiro continua atraindo capital estrangeiro, com um saldo positivo de R$ 14,3 bilhões no mercado secundário de ações até 19 de março, o que tem contribuído para a alta de 10% do Ibovespa em 2025.
Nos próximos dias, investidores seguirão atentos a indicadores econômicos importantes, como o IPCA-15 e dados sobre o PIB nos EUA e Reino Unido, além da reta final da temporada de balanços no Brasil1.