O cenário de investimentos no Brasil no primeiro semestre de 2025 confirma uma realidade bem conhecida: o país respira renda fixa. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) revelou que, do montante total de R$ 7,9 trilhões aplicados pelos brasileiros, impressionantes R$ 4,7 trilhões — ou quase 60% do total — estão alocados em títulos de renda fixa. Isso significa que, a cada dez reais investidos, seis foram direcionados para essa modalidade.
Dentro desse universo da renda fixa, alguns produtos se destacam. Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) são os grandes favoritos, com R$ 1,15 trilhão em investimentos. Esse valor representa um crescimento robusto de 9,9% em relação a dezembro de 2024, impulsionado principalmente pelos investidores de alta renda (aqueles com maior capital, mas que não se enquadram no segmento private, acima de R$ 5 milhões). Para esse grupo, a alocação em CDBs saltou 18,5% no período.
Os Preferidos da Renda Fixa e a Aposta em Ações
Na sequência dos CDBs, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) mantêm sua relevância, somando R$ 536,7 bilhões e R$ 426,5 bilhões, respectivamente. Ambos os títulos, conhecidos por sua isenção de Imposto de Renda, apresentaram crescimentos significativos de 13,2% (LCA) e 17,7% (LCI) no primeiro semestre.
Em um movimento que chama a atenção, as ações também registraram um volume considerável, alcançando R$ 767,3 bilhões até o fim de junho de 2025. Embora o crescimento geral tenha sido modesto (4,2% no semestre), a grande surpresa veio do varejo tradicional. Esse grupo de investidores aumentou em expressivos 19,5% sua alocação em ações, superando o ritmo de alta renda (6,4%) e do segmento private (1,4%).
Diversificação e Juros Altos Impulsionam o Cenário
Luciane Effting, presidente do Fórum de Distribuição da Anbima, explica que essa mudança de comportamento do varejo tradicional reflete um maior ímpeto por diversificação. O bom desempenho do Ibovespa, que acumulou alta de 15% neste primeiro semestre, certamente contribuiu para atrair mais investidores para a renda variável.
Para os investidores de alta renda, além do crescimento em CDBs, houve um aumento notável em debêntures incentivadas, com alta de 27%. Esses títulos, assim como LCIs, são impulsionados por dois fatores principais: os juros elevados, na casa dos 15% ao ano, que garantem retornos atrativos, e a possibilidade de se tornarem tributáveis a partir do próximo ano, o que pode ter levado alguns a antecipar investimentos para aproveitar a isenção atual.
Já os investidores do segmento private, os chamados super-ricos, mantiveram uma postura mais conservadora, focando em títulos públicos e também em títulos isentos, como LCI e LCA. A alocação em títulos públicos teve um aumento de 17,8%. Segundo Effting, a preferência se justifica tanto pelo retorno robusto dos juros altos quanto pelo benefício fiscal ainda presente nesses papéis. Contudo, a iminente ameaça de tributação desses títulos já está no radar do mercado.