Com a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 15% ao ano, o cenário para investimentos em renda fixa está prestes a mudar. A expectativa do mercado financeiro é de que cortes na Selic comecem em breve, seja ainda em dezembro ou no início do próximo ano. Essa virada no ciclo de juros impacta diretamente a rentabilidade dos títulos públicos, tornando Tesouro IPCA+ e Tesouro Prefixado opções mais atraentes.
Anteriormente, com a Selic em alta, os títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic, eram a principal escolha dos analistas. Isso porque a rentabilidade desses títulos acompanha a variação da Selic, garantindo ganhos maiores em períodos de juros elevados. No entanto, com a iminente queda da taxa, a premissa muda: pós-fixados tendem a entregar retornos menores.
Entendendo os Títulos do Tesouro
Diferentemente dos pós-fixados, o Tesouro Prefixado oferece uma rentabilidade fixa no momento da compra. Ou seja, se você adquire um título com retorno de 13,3% ao ano, esse percentual será mantido até o vencimento, independentemente das flutuações da Selic. Já o Tesouro IPCA+ combina uma taxa prefixada com a correção pela inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Se o título indica IPCA + 7,72%, você receberá 7,72% ao ano mais a variação da inflação no período. Essa parte prefixada é conhecida como “juro real”.
As taxas atuais dos títulos públicos estão em patamares historicamente altos. A Selic a 15% ao ano é um nível não visto em quase duas décadas, e essa realidade se reflete nas rentabilidades do Tesouro Prefixado, em torno de 13% ao ano, e do Tesouro IPCA+, com juros reais na faixa de 7% ao ano. Bruno Cotrim, economista da Top Gain, aponta que, embora as taxas mais altas de 14% ou 15% do passado recente possam não retornar, ainda há uma boa oportunidade para investidores que buscam segurança, com rentabilidade de pelo menos 1% ao mês.
Qual a melhor escolha?
O Tesouro IPCA+ é amplamente recomendado por analistas, com discussões sobre os prazos de vencimento. A correção monetária pelo IPCA no vencimento é um dos principais atrativos, pois protege o poder de compra do investidor contra a inflação. Segundo o planejador financeiro Jeff Patzlaff, títulos IPCA+ com vencimentos mais longos, como 2030 e 2035, são ideais para preservar o poder de compra no longo prazo, já que a correção monetária se acumula ao longo do tempo.
Por outro lado, o Tesouro Prefixado enfrenta maior suscetibilidade às incertezas de curto prazo. Fatores como tarifas de importação, o ciclo eleitoral e as negociações sobre as contas públicas podem impactar o mercado. Laís Costa, analista da Empiricus, ressalta que, embora o cenário atual aponte para corte de juros, uma mudança inesperada no mercado pode tornar as taxas prefixadas menos atrativas.
Ainda assim, Otávio Araújo, consultor sênior da ZERO Markets Brasil, vê valor nos prefixados de prazos mais curtos, especialmente se a inflação recuar. Nessas condições, as taxas de 13% ao ano dos prefixados podem se sobressair em comparação com os títulos indexados à inflação em prazos curtos.
Diversificação é a chave
A escolha entre um e outro depende do horizonte de investimento. Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Inter, sugere títulos atrelados à inflação (IPCA+) para prazos acima de três anos. Para períodos inferiores a um ano e meio, a indicação são títulos de liquidez atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI). O intervalo entre um ano e meio e três anos é o mais adequado para títulos prefixados, mas com uma alocação limitada a 5% da carteira.
Otávio Araújo reforça a importância da diversificação, recomendando que a carteira de investimentos inclua as três formas de rentabilidade (pós-fixada, prefixada e indexada à inflação) para otimizar os ganhos. Diante das taxas atualmente elevadas, o especialista vê essa como uma excelente oportunidade para o investidor, “São ótimas taxas para ter na carteira e levar até o fim”.