O Brasil tem um potencial de crescimento significativo, mas esbarra em um obstáculo persistente: a taxa de juros elevada. Segundo Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, se o país conseguisse operar com um juro nominal próximo de 7%, o cenário econômico seria “totalmente diferente” e a nação “voaria”. Essa visão foi compartilhada durante o evento AgroForum do BTG Pactual, realizado na última quarta-feira (13), onde Almeida e André Esteves, chairman do banco, analisaram os desafios e as oportunidades da economia brasileira.
Ventos Externos e o Dólar
Os economistas ressaltaram que os impulsos positivos observados recentemente na economia brasileira, como a valorização do real e o controle da inflação, não são resultado direto de melhorias nos fundamentos internos. Na verdade, esses avanços estão mais ligados a fatores externos. André Esteves explicou que a valorização do real, por exemplo, é um reflexo da fraqueza generalizada da moeda norte-americana no mercado global. “Não aconteceu nada de muito relevante com o real, aconteceu com o dólar”, afirmou Esteves.
Esse cenário externo favorável contribui para a desaceleração da inflação, pois um dólar mais fraco tende a baratear produtos importados e reduzir custos internos, como os de energia e alimentos. Mesmo o aumento de 50% nas tarifas dos EUA contra o Brasil, apesar do “barulho”, deve ter um efeito macroeconômico limitado, conforme Esteves, podendo até ser deflacionário para o Brasil, desde que não haja retaliação comercial.
O Peso da Selic nas Contas
Para Mansueto Almeida, a taxa básica de juros, a Selic, funciona como uma verdadeira “trava” para o desenvolvimento do Brasil. Ele argumenta que “com um juro real de 10% ao ano, qualquer país do mundo estaria em recessão”, o que ilustra a severidade do impacto sobre a atividade econômica. A preocupação é que, mesmo com previsões de queda, a taxa de juros real — que considera a inflação — permanecerá em patamares muito altos no próximo ano.
A raiz do problema, segundo o economista, reside na política fiscal. A combinação de uma política fiscal expansionista, que se refere ao aumento dos gastos públicos ou redução de impostos, e um Banco Central que tenta conter a economia elevando os juros, cria um impasse. “É como dirigir com um pé no acelerador e outro no freio”, comparou Mansueto, destacando que aumentar a arrecadação via impostos não resolverá as contas do governo central, sendo o verdadeiro desafio frear o crescimento dos gastos obrigatórios.
O Caminho para um Futuro Mais Próspero
A solução para destravar o potencial de crescimento do Brasil passa por uma gestão fiscal mais rígida. Mansueto Almeida enfatizou que o próximo governo, independentemente de quem assumir, precisará de um plano de controle de gastos públicos muito mais claro. Ele adverte que, embora um ou dois anos de juros reais elevados possam ser suportados, um período de três anos terá um impacto “muito forte na economia”.
Reformas cruciais realizadas na última década, como a trabalhista, previdenciária, tributária, novos marcos regulatórios e a independência do Banco Central, foram fundamentais para sustentar o crescimento e o mercado de trabalho até agora. No entanto, esses ganhos sozinhos não serão suficientes para manter os indicadores positivos. A expectativa é que, se o próximo governo sinalizar um crescimento real zero nos gastos públicos por alguns anos, as perspectivas econômicas podem melhorar rapidamente, a inflação cairá e abrirá espaço para uma redução mais acentuada dos juros, impulsionando o país.