A tão aguardada reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, que discutiria as tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, foi cancelada. Haddad confirmou nesta segunda-feira (11) que o encontro, previsto para quarta-feira (13), não tem nova data, o que adia as esperanças do mercado por uma solução negociada. A justificativa oficial foi “falta de agenda”, um motivo considerado inusitado pelo ministro.
Em paralelo, o governo brasileiro está nos ajustes finais de um plano de contingência para apoiar os setores da economia nacional mais atingidos pela sobretaxa de 50% de Donald Trump. Este pacote, que vem sendo elaborado há semanas, deve ser divulgado nesta terça-feira (12), conforme anunciou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Plano de Contingência em Detalhes
As medidas em estudo visam mitigar o impacto das tarifas. O ministro Haddad explicou que o Itamaraty trabalha com base na Lei da Reciprocidade para dar uma resposta adequada à taxação. As ações de apoio, por sua vez, estão sendo definidas na Casa Civil e serão apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda hoje.
Entre as propostas do plano de contingência, destacam-se reformas estruturais no Fundo de Garantia para Exportações e novas regulamentações para instituições como Banco do Brasil, BNDES e Tesouro. O governo também estuda autorizar o Poder Público a comprar produtos específicos que seriam exportados, garantindo um escoamento para a produção nacional. Linhas de crédito facilitadas, adiamento no pagamento de tributos e estímulos às vendas externas também compõem o rol de ações. Há, ainda, a previsão de exigir a preservação de empregos pelas empresas beneficiadas, com flexibilização em casos de impacto severo.
O Contexto Político da Tensão
A discussão entre Brasil e EUA tem ganhado contornos políticos. Haddad criticou a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, segundo ele, permanece nos Estados Unidos e pressiona por sanções contra autoridades brasileiras, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Para o ministro, essa postura representa uma “antidiplomacia” que difere o Brasil de outros países. O deputado, em entrevista ao Financial Times, defendeu que os EUA ampliem as penalidades, mencionando a possibilidade de novas sanções, revogação de vistos e tarifas.
Em contraste com a polarização, o vice-presidente Geraldo Alckmin tem liderado as negociações com autoridades norte-americanas e mantido diálogo com o setor produtivo. Alckmin reforçou que a prioridade do governo é o entendimento e a resolução do impasse, buscando a exclusão de mais setores das tarifas, consideradas “extremamente injustas”, em vez de uma retaliação. A expectativa é que Lula e Alckmin definam os últimos detalhes do plano de contingência nesta terça-feira.
