O cenário diplomático e econômico entre Brasil e Estados Unidos esquenta mais uma vez, com o ex-presidente Donald Trump elevando o tom de suas críticas. Nesta quinta-feira (14), Trump não poupou palavras, classificando o Brasil como um “parceiro comercial horrível” e atacando a política interna do país, especialmente o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que ele considerou uma “execução política”.
As declarações de Trump vieram à tona durante uma conversa com jornalistas, onde ele defendeu a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Segundo o republicano, o Brasil impõe taxas muito maiores que as americanas, justificando assim a retaliação comercial. “Nós essencialmente não estávamos cobrando nada. Sempre tornaram muito difícil fazer qualquer coisa. Então agora estão sendo cobrados com tarifas de 50% e não estão felizes. Mas é assim que funciona”, afirmou.
Além do embate comercial, Trump mergulhou na política interna brasileira, criticando abertamente o sistema judiciário. Ele expressou apoio a Bolsonaro, alegando que o processo contra o ex-presidente é uma “execução política”. “Eu conheço esse homem e vou lhe dizer, eu sou bom em avaliar pessoas, acho que ele é um homem honesto”, declarou Trump, inflamando ainda mais a discussão.
A resposta brasileira não tardou. No dia anterior às falas de Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia se manifestado, defendendo a Justiça brasileira e criticando a atuação de Trump no episódio do Capitólio. Lula salientou que o julgamento de Bolsonaro se baseia em provas e presunção de inocência, características de um país democrático. “Eu disse ao presidente Trump: se o que aconteceu no Capitólio tivesse acontecido no Brasil, ele também estaria sendo julgado aqui no Brasil”, disse Lula.
Impacto Direto nas Exportações
As tensões diplomáticas e as tarifas impostas por Trump já mostram seus primeiros efeitos concretos na economia. Compradores de café nos Estados Unidos começaram a adiar as importações do produto brasileiro, conforme informou o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafe). A indústria americana, uma das maiores consumidoras do grão, aguarda definições, mas dispõe de estoque para cerca de 30 a 60 dias, o que já gera prejuízos para os exportadores brasileiros.
A queda nas exportações de café verde em julho, que recuaram 28,1% em comparação anual, para 2,45 milhões de sacas de 60 kg, é um reflexo direto dessa situação. As exportações de café arábica caíram 20,6%, e as de robusta, quase 49%. O adiamento dos embarques para períodos futuros, como de setembro para dezembro, pode resultar em perdas adicionais de até US$ 10 por saca, pressionando os custos dos produtores e exportadores que dependem de adiantamentos em contratos de câmbio (ACCs).
Em um desdobramento que acentua a divisão política, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), após reuniões em Washington, afirmou não ver possibilidade de negociação para redução de tarifas sem concessões do Supremo Tribunal Federal (STF), chegando a declarar que “Os ministros do Supremo Tribunal têm que entender que perderam o poder”. Lula, por sua vez, reagiu duramente às falas do deputado, acusando-o de “trair o país” e defendendo sua cassação no Congresso Nacional, solidificando a complexa teia de relações entre economia, política interna e externa.